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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Conhecimento x Informação

Essa postagem surgiu de uma conversa que tive com um amigo no ônibus. Ele estava pensando como o conhecimento dos mais velhos (ou até o "conhecimento tradicional") não é mais útil ao modo de vida atual, quando basta um clique para "sabermos" das coisas. Um exemplo discutido foi o "saber se vai chover".

Para saber se em determinado dia vai chover, não é necessário o conhecimento de alguém mais antigo. Ora, basta entrar na internet que ela dá o volume de chuva, a temperatura atmosférica e a direção do vento. Portanto, o conhecimento dos mais velhos tornou-se obsoleto e praticamente inutilizado.

Outro exemplo exposto foi o do avô do meu amigo. Segundo ele, as habilidades comerciais do seu avô e seu conhecimento das rotas de comércio (quando e onde determinada "carga" vai chegar) atualmente também é inútil. Ele disse que "no tempo do vô se fazia comércio com carroça e agora é com caminhão e por outras rotas". Também, disse que "antes o vô sabia comercializar bastante e agora parece que ele não sabe nada, porque tá tudo diferente do tempo dele".

Atualização


Já que o contexto muda, o conhecimento sobre determinado assunto também pode mudar. A mudança é uma constante no mundo e a Ciência é a prova da alteração do conhecimento humano. Não que o conhecimento seja a verdade, mas ele é uma interpretação mais coerente de processos e eventos, bem como o saber-da-existência-de.

No caso do avô do meu amigo, o conhecimento que ele tinha das rotas comerciais se tornou inutilizado, mas não inútil. Como o contexto mudou (antes usava-se carroças e agora veículos automotores), outras relações também podem ter mudado. Se o avô do meu amigo não acompanhou a mudança, procurando entendê-la, seu conhecimento tornou-se obsoleto, mas -- repito -- não inútil. Aí está a resistência ao novo, resistência ao diferente. E essa resistência, se não for bem "manejada", pode se tornar perigosa.

Conhecimento cimentado


Também chamado de "conhecimento engessado". É aquele conhecer que não está aberto ao novo, nem mesmo à flexibilidade. O maior problema disso é que o conhecimento "velho" não contribui ou pouco contribui ao novo, não havendo uma forma mista de saber, mas uma substituição muitas vezes violenta.

Isso acontece por duas vias: 1) o conhecimento engessado pode ser substituído por outro e cair no completo esquecimento ou, 2) se as pessoas que detém o conhecimento engessado são de índole dominadora, ele é imposto a outra cultura como sendo "certo" e a "verdade".

Nessa imposição de conhecimento, uma determinada população pode se sentir "perdida" e com a vivência incoerente, uma vez que seu conhecimento engessado e imposto não dá explicação sobre o lugar onde vive. Exemplo disso é o próprio Brasil, onde o conhecimento de origem europeia difundido na cultura brasileira faz a população do país não entender o próprio ambiente em que vive. Além disso, esse conhecimento (que está ligado aos valores de um povo) gera todo o tipo de preconceito para com povos culturalmente diferentes, atribuindo-lhes falta de instrução ou ignorância; ou seja, atribui-se a eles um conhecimento "errado", consideração do qual a própria Ciência é cúmplice.

"Quando estávamos guerreando, também disseram que deveríamos escolher um lado. Mas não escolhemos lado algum. Lutamos por nós mesmos. E agora poderemos fazer isso!" (Peixoto, D. V. Bando sem marca. Passo Fundo: Méritos, 2015, p. 35)

Informação


O que grande parte da população humana tem atualmente é um conhecimento imposto e muita informação. Creio que há mais informação que conhecimento, e que ela está o substituindo. A internet é exemplo típico disso: geralmente busca-se informação, como quando se deseja ver a previsão do tempo.

Você deve estar se perguntando: qual a diferença entre o conhecimento e a informação? Então, vou explicar, segundo a minha observação.

Como o próprio nome já diz, a informação informa. É como quando você lê ou assiste a um jornal: há informações (parciais) sobre os acontecimentos do mundo e você fica sabendo cada fato. Entretanto, saber o que acontece ou aconteceu não significa entender sobre os acontecimentos. É quase como fazer uma prova onde se decora o conteúdo: você não entende o conteúdo, apenas se apossou de informações para ir bem na prova. Depois que a prova passa, geralmente se esquece ou não tem argumentos para discutir o conteúdo.

Através do conhecimento se entende os processos que criam as informações, mesmo que as próprias informações baseiem um conhecimento quando forerelacionadas, raciocinadas e devidamente criticadas. Por isso, o conhecimento do avô do meu amigo se tornou inutilizado, pois ele explica processos que aconteceram, mas não que acontecem. Entretanto, esse conhecimento inutilizado pode ser útil algum dia, quando o contexto mudar ou for preciso agregar outros conhecimentos para se criar um novo. Além disso, o conhecimento antigo (como do tal avô) pode servir como alternativa frente aos conhecimentos (e valores) impostos pela globalização. E aí está a importância do conhecimento dos povos tradicionais que, ao meu ver, está mais aberto ao novo do que o conhecimento baseado em publicações científicas, museus e o Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Concluindo...


Por fim, para exemplificar melhor, retorno ao exemplo do "vai chover". Na informação se sabe que chove ou não em tal dia. No conhecimento se entende o porque chove e o que faz chover. Portanto, conhecer sobre os fatores climáticos e pluviométricos faz o indivíduo adquirir (e criar) a informação se vai chover ou não.

O meu amigo disse então: "mesmo assim, é mais fácil olhar na internet que entender a chuva". De certa forma é mais fácil. Entretanto, isso limita o indivíduo, que precisará de internet para prevenir acontecimentos e saber das coisas. Ainda prefiro ter conhecimento, pois onde quer que eu vá ele estará junto e não precisarei de um fator externo (internet, jornal e televisão) para saber das coisas. Além de que, dependendo da informação, ela foi manipulada para você acreditar na explicação (muitas vezes superficial) de outra pessoa.

Receber informações sem uma crítica do que está por trás dela e o porque ela está circulando demonstra tendência em ser manipulado. Pessoas acomodadas fazem isso, ainda mais nos tempos de Facebook: compartilham informações como verdades, sem a devida crítica ou conhecimento do motivo de tal informação estar em circulação.

Receber informações e considerá-las verdades, especialmente da mídia, é ter os sentimentos e considerações manipuladas. É deixar de pensar e criticar, deixar de perceber que aquilo pode não ser "aquilo". Então, que tal mais conhecimento(s)? Bora estudar, observar e criticar o que quiser... Inclusive esse texto. ;)

"... os novos conhecimentos não são considerados verdade absoluta, pois são apenas uma interpretação da realidade". (Peixoto, D. V. Bando sem marca. Passo Fundo: Méritos, 2015, p. 249)

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