A sociedade proposta no livro Bando sem marca valoriza a biodiversidade das regiões onde ela está inserida. Nessa valorização há manutenção e utilização de "espécies nativas" para alimentação. Então, por que não se alimentar de frutos nativos?
"Repentinamente, Dãxk saiu sorridente da escuridão, segurando um cacho grande de frutos amarelos." (Bando sem marca, p. 82)
A palmeira Bactris setosa, popularmente conhecida como Tucum, Tucunzeiro ou Uva-do-mato, ocorre naturalmente na Mata Atlântica e partes do Cerrado, indo do Piauí ao Rio Grande do Sul. O tucum atinge cerca de 4 metros de altura, possui caule em toiceiras (cespitoso) e espinhos no caule, nas folhas e nas brácteas ("canoa" que fica logo acima do cacho de flores/frutos).
Detalhe para os espinhos no caule do Tucum. (Foto: Dilson Vargas Peixoto, 2015) |
Palmeira Tucum. Bairro Ponta das Canas, Florianópolis. (foto: Dilson Vargas Peixoto, 2015) |
As inflorescências geram frutos ovoides de 2 cm de diâmetro em média. Os frutos maduros têm coloração marrom-escuro ou negro-arroxeado. A frutificação ocorre no verão, embora tenha encontrado frutos em pleno inverno em Florianópolis - SC. Os frutos são dispostos em forma de cachos semelhantes a uvas (daí o nome "uva-do-mato").
O tucum é parente da Pupunha (Bactris gasipaes), famosa palmeira de fruto saboroso e muito apreciado na região norte do Brasil. Como a pupunha, o fruto do tucum é comestível, embora seja menor e tenha menos polpa.
A pequena polpa branca do tucum é adocicada. A semente tem o endocarpo (casca) preto e o endosperma (interior) branco. Esse endosperma também é comestível e seu gosto lembra o Coco-da-praia (Cocos nucifera).
Como o tucum é uma espécie nativa do Brasil, há mais uma justificativa para preservarmos as matas e essa fabulosa palmeira, valorizando o potencial e benefícios das espécies selvagens no cotidiano. Portanto, uma sociedade mais sustentável é aquela cujos
... "cultivos diferirão de uma região para outra. (...) A preferência será por espécies que ocorrem na região." (Bando sem marca, p. 232)
Dados sobre a planta
Família: Arecaceae
Nome científico: Bactris setosa
Período de frutificação: conforme observações, pode variar, podendo ser no inverno ou início do verão.
Drenagem do solo: pode ocorrer tanto em solos que são alagados parte do ano ou em solos secos.
Caule cespitoso de Tucum. Bairro Ponta das Canas, Florianópolis. (Foto: Dilson Vargas Peixoto, 2015) |
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Fontes consultadas
http://www.colecionandofrutas.org/bactrissetosa.htm
http://www.arvores.brasil.nom.br/new/palmeiratucum/index.htm
https://sites.google.com/site/florasbs/arecaceae/tucum-1
http://www.boletimmbml.net/pdf/16_01.pdf
http://repositorio.unb.br/handle/10482/12953
http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-33062006000300001&script=sci_arttext
Possui uma das melhores e mais resistentes fribras vegetais ,sendo usada por indigenas e caiçaras de algumas regioes para confecçao de redes (de pesca e de dormir )e cordoaria em geral
ResponderExcluirEntão mais um motivo para preservar e valorizar nossas matas e o Tucum. Gratidão por ter compartilhado esse conhecimento, Gustavo. Certamente é uma boa dica de vivência, contribuindo para o estabelecimento da sociedade proposta em "Bando sem marca", que valoriza o feitio artesanal oriundo da natureza da região.
ExcluirTUCUM - SABOROSA LEMBRANÇA DE INFÂNCIA
ResponderExcluirVendo esta valiosa pesquisa sobre o tucum, rememorei minha infância (lá pelos anos 1961 e 1968), quando vivi na área rural de Teófilo Otoni/MG (Nordeste mineiro). Morávamos como meeiros na Fazenda Bela Vista, cujo proprietário era Dr. Germano Scofield. Éramos quatro: mãe (agricultora e artesã, viúva), eu e mais dois irmãos. Lá na roça, cultivávamos feijão, arroz, milho, hortaliças, flores e criávamos galinha, cães, gatos e, de vez em quando, porcos. Da produção, nosso patrão só dividia o feijão e o arroz. Além disso, nossa sobrevivência dependia do que colhíamos da natureza. Sem prejudicar a fauna e a flora (bravamente defendidas pelo fazendeiro), nós dependíamos também da produção das matas (lenha de árvores secas, matéria prima para artesanato, plantas medicinais e frutos silvestres (entre eles, os saborosos cocos brejaúba e tucum). Jamais posso me esquecer de quanto o tucum foi importante na nossa vida. Havia touceiras enormes no meio das matas ou à beira do brejo. Quando chegava a época natalina, vencendo os espinhos dos caules da palmeira,colhíamos vários cachos de tucum maduro e levávamos para casa. Era a hora de separar o que era para nosso uso e os cachos maiores, a gente levava para vender na feira. Mamãe separava os cachos mais bonitos (parecidos com uvas), atendendo às encomendas das madames ricas, que usavam os mesmos junto às frutas selecionadas para a decoração da mesa de Natal. Sem devastação da touceira, minha mãe também aproveitava e tirava em menor escala, algum palmito (saboroso!) e vendia na feira. Como sempre preservávamos a natureza, as moitas das palmeiras se mantinham e renovavam no decorrer do tempo. Assim, em todos os anos,nosso sustento também era garantido, com ajuda do saboroso e importante tucum. Mesmo diante de tanta devastação de nossa flora, sem dúvida, o tucum é uma das mais importantes palmeiras do Brasil, devido às suas utilidades. Ainda hoje (04/01/2016), vendo reportagem do programa Ana Maria Braga (Mais Você/TV Globo), fiquei encantada sobre o café que o povo do Maranhão sabe muito bem preparar do coquinho tucum torrado e moído. Nota mil para o delicioso tucum e quem sabe explorá-lo de forma sustentável! Maria de Fátima Ferreira da Silva (Jornalista e funcionária pública - Teófilo Otoni/MG).Emails: mfatimafer@bol.com.br
maria.fatimasilvaz03@yahoo.com.br
Gratidão pelo comentário Maria de Fátima. Como é bom saber que a postagem te fez recordar uma bela infância. Infelizmente muitas de nossas crianças não percebem a importância da preservação e utilização consciente de nossas matas. Quanta fome poderia ser saciada se esse conhecimento fosse amplo, sempre atentando para a responsabilidade ambiental e partilha. Novamente agradeço por esse relato. Certamente contribuiu muito para o propósito do blog e me encheu de satisfação. :D
ExcluirBom dia.
ResponderExcluirvaleu pela matéria, realmente relembra dias felizes comendo esta fruta tão fascinante e gostosa. Quem não provou ainda não sabe o que ela representa em termos de sabor.
Muito boa esta sua matéria, faça mais dados sobre ela, vale a pena manter a história e dados sobre esta maravilhosa fruta da nossa natureza.
Isso aí não é tucum pois, eu conheço muito bem. Fui nascido e criado numa região onde tem bastante o tal tucum e é bem diferente desse que estão mostrando na foto.
ResponderExcluirprocuro receita de licor.... de tucum alguém tem?
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